21 abril 2009

Nem toda razão é bem fundamentada.


Em uma fazenda, não muito longe daqui, há um muro que separa duas grandes famílias. Estas, típicas do interior, omitem suas rivalidades e vontades há muito tempo, a fim de nem isso compartilhar. Por um tipo de conflito interno, tendem a brigar constantemente pela posse das terras que julgam as pertencer, porém não as fazem, pois há falta de paciência até mesmo para discutirem sobre o mesmo – enfim, preferem fazer jus ao muro que erguido há tempos estremece com as pisadas de seus vizinhos.
A vizinhança, que saboreia essa delicada disputa, não opina e muito menos ajuda ambas as partes, apenas – digamos, tenta entender o por quê. Estes simpáticos vizinhos não entendem – mesmo tentando o fazer –, porém se questionam o do por quê de brigar por uma posse do que a eles mesmos pertence, pois são todos providos das mesmas raízes e tiveram a mesma origem. São gêmeos do mesmo nascimento.
Entretanto, há um fato curioso sobre a família e o muro estabelecido. Supostamente primos, duas crianças brincam todos os dias de manhã próximos à estrutura de pedra, deve ser porque ali há uma imensa quantidade de insetos, o que provoca o aguçado instinto masculino do menino de saber de onde eles vêm, do que são feitos e o que fazem? – coitadinho dos bichinhos que serviram de experimento científico, provavelmente ele deva ter seus dez anos de idade; e logo, pela magnífica beleza das margaridas que do outro lado do muro habitam, a menina com seu carinhoso coração as admira e as trata como amigas e irmãs, aceitando o imaginário convite para um cordial café da manhã, não se sabe qual a idade desta garotinha, porém as bocas da vizinha suspeitam que ela deva ter seus delicados anos à frente ao menino.
De qualquer maneira apesar de não se conhecerem, apenas se escutam e às vezes conversam, porém não chegam a um senso comum, pois ela quer falar sobre sua linda família de margaridas e ele dos seus intrigantes insetos, que para ela são nojentos.
Porém, o mais intrigante ainda é o por quê de não pularem o muro. A menina que poderia escalar o muro não o faz, pois é muito medrosa e imagina que do outro lado possa existir alguém que a faça mal, como confiar em alguém que brinca com insetos? Ele, o menino, mais corajoso não o faz por não alcançar o muro, ele é muito baixinho.
E assim, os dois ficam imaginando como deva ser do outro lado, esperando que essa briga boba e sem juízo de seus pais termine para que o muro tomba e a curiosidade morra com a queda do mesmo. Enquanto isso os dois jovens tentam se entender para que quando crescerem, saibam cultivar o respeito de que todo mundo tem um pouco de razão e um pouco de emoção, e embora muitas das vezes não se entenda, deve-se respeitar os mistérios de qualquer morada, de qualquer fazenda, pois se observarmos, minuciosamente, enxergaremos que há inúmeros muros a serem tombados em todos os lugares, e que é preciso de naturalidade e tempo para que isso aconteça. Até lá, resta-nos paciência, respeito e agradecimento. Obrigado.

5 comentários:

Mônica disse...

Gostei da história. Há muros a serem derrubados até dentro de nós mesmos e esses são os piores!

Bjs, lindo.

Mari. disse...

Ah, esses muros... A gente doido pra ver o que tem do outro lado, mas eles não deixam... Ou somos nós que temos medo de derrubá-los?

Fica a questão...

P.S.: Amei o "Xuxu" deixado nos meus comentários... (hahahaha)

Xeruuuuu
=*

Sheila disse...

Adorei a historia, todos temos esses muros u.ú

tem um selinho pra voce no meu blog :)


beijo ;*

Mauri Boffil disse...

Vivencio isso na pele com a vizinha da frente... somos amigos mas nossas familias são quase um capuleto e montequio.

Marina disse...

Ahhhh muros, quantos deles contruímos ao longo da vida? Se formos analisar, talvez mais construímos do que destruímos...mas saber dessa fraqueza já é um grande passo...
Te amo amigo!