Da janela daquele casarão velho, uma linda garotinha de olhos cor-de-mel observa o movimento dos galhos secos que batem em seu mundo de imaginação. Aprisionada em pensamentos, inventa nomes e profissões para as bonecas velhas, rasgadas e sujas, mas verdadeiras companheiras. Ela mesma tem a certeza de que, quando crescer jamais irá esquecer das grandes amigas que junto à ela dividiram tristeza, felicidades, lágrimas de ambos sentimentos.
Tudo que mais deseja é que alguém, lá de fora, olhe para ela e diga com a voz firme e especial, que fale de coração “EU SEI DO SEU VALOR E NÃO TE DEIXAREI SOZINHA”. Seria o bastante para que ela voltasse a abrir os olhos, a sorrir... Voltasse a vida. Além de retribuir com uma afável explosão de amor, tenha a certeza de que receberia este alguém com um carinhoso abraço recheado de muito calor presente num “OBRIGADO”. Abraçar pode mudar até os olhares mais desconfiados.
Todos esses dezoito anos que permaneceu amarrada em sua mortalidade fez dela uma moça forte, destemida e irreverente. Hoje, com o lápis na cansada e pesada mão, desenha um jardim incrível, o qual está repleto de flores. Acredito que margaridas! Para ela essa simbologia representa todas as pessoas, que estão presentes no mundo. Espero que ela não tenha esquecido de mim e nem de você? Porém é triste saber que tal simbologia está coberta de alegóricas variantes. O ciclo de vida das flores está metaforicamente ligado aos dos homens.
Porém, esta moça representa este ciclo com muito cuido, pois de maneira alguma deseja que com o escorregar do lápis, crie ervas daninhas, difíceis na maioria das vezes de serem arrancadas.
Germinados, nascemos, damos os primeiros berros de “ESSE SOU EU!”, porém só com cuidado e carinho, chegaríamos aos estágios seguintes.
Na leitura do desenho, consigo ver isso claramente. Vejo também que, nesse, muitas coisas acontecem. Às vezes, uma boba tempestade de açúcar até consegue arrancar um ou duas pétalas, mas por milagre sempre há uma margarida com boas intenções por perto para ajudar, para acalmar, para dar colo. Lindo desenho!
Essas belas e textualizadas margaridas desenhadas pela mão de uma mulher de 30 anos apresentam não somente detalhes dos seres humanos, mas remete a quem lê-lo que é preciso estar unido, pois nunca se sabe quando tal tempestade ou abusados floricultores ira perturbar a paz do paisagismo criado.
Contudo, o que mais me dói é saber que por mais que grite as palavras pedidas por essa senhora, jamais saberei que a mesma consegue ouvir, pois ela permanece tranqüila e serena em sonhos. Não quero acordá-la, por isso meus gritos acumulados em pensamentos nunca chegaram ao destino. Mas sei que meu beijo abraço de obrigado ela consegue sentir.